quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Microsoft dá celular a operário que se demitir na China

Corte de vagas faz parte de reestruturação da gigante americana, que comprou a Nokia
A Microsoft está oferecendo celulares gratuitamente aos operários que aceitarem se demitirem voluntariamente, dentre os 4.700 que devem ser desligados de uma fábrica na capital chinesa, Pequim, segundo uma reportagem do jornal "China Business News".
A notícia vem à tona em meio a uma série de incidentes envolvendo a empresa americana e organizações trabalhistas do país asiático. Também é parte de um dos cortes de 18.000 empregos no mundo que a Microsoft anunciou como parte da reestruturação.
A maior parte dos cortes (12,5 mil vagas) virá da unidade de telefonia móvel e será fruto, nas palavras da empresa, de "sinergias" e "alinhamento estratégico" na integração da finlandesa.
A demissão, que representa 14% da força de trabalho da empresa, é a maior nos 39 anos da companhia e é a primeira grande medida tomada por Satya Nadella, desde fevereiro novo presidente-executivo da Microsoft.
A companhia disse que ofereceria, em ordem de chegada, até 300 aparelhos Nokia Lumia 630 por dia a funcionários que concordassem com o pacote de resignação voluntária, segundo um e-mail que circulou internamente e ao qual a publicação diz ter tido acesso. O Lumia 630 custa cerca de R$ 300 na China e é vendido por R$ 549 no Brasil.
TAREFA DIFÍCIL
A Microsoft Mobility é o braço de celulares da Microsoft que foi fundada quando da aquisição da divisão de smartphones da Nokia em abril último, por cerca de US$ 7,2 bilhões.
A aquisição teve um impacto negativo no resultado do trimestre de abril a junho da Microsoft, derrubando em 7% o lucro da companhia. A aquisição da unidade da Nokia faz parte dos planos da Microsoft para disputar com Apple e Samsung o mercado de smartphones.
Até o momento, porém, as vendas dos celulares Lumia, da Nokia, não têm atingido o sucesso que a Microsoft esperava, conseguindo uma participação global de 4%. As vendas do Lumia chegaram a 5,8 milhões de unidades nas nove semanas em que a Nokia fez parte da Microsoft. Isso se compara à venda de 35,2 milhões de unidades de iPhone, da Apple, no período de abril a junho deste ano.
Esta é a íntegra de uma reportagem publicada na edição de 9 de agosto de 2014 do jornal Folha de S.Paulo.
"A companhia disse que ofereceria, em ordem de chegada, até 300 aparelhos Nokia Lumia 630 por dia a funcionários que concordassem com o pacote de resignação voluntária", segundo um e-mail que circulou internamente e ao qual a publicação diz ter tido acesso.
Pacote de resignação voluntária! Resignação voluntária sugerida pela companhia com a intenção de evitar possíveis problemas junto às organizações trabalhistas do país asiático. Resignação voluntária, é uma "pérola" que segundo a notícia, consta em um e-mail que circulou internamente, ou seja, deve ter sido enviado pela companhia aos resignáveis. Mas de quem deve ser a autoria daquela "pérola" que aparece no interior da primeira ostra, digo, frase da notícia? "A Microsoft está oferecendo celulares gratuitamente aos operários que aceitarem se demitirem voluntariamente."
Oferecendo gratuitamente aos operários que aceitarem se demitir voluntariamente! Quanta hipocrisia! Com a intenção de comprar possíveis direitos trabalhistas de seus futuros ex-operários, a companhia oferece-lhes um aparelho celular com o discurso de estar presenteando-os. Se essa pérola for de autoria da companhia (grande probabilidade), é muita cara de pau! Um golpe de mestre! De mestre do mal. Com uma só tacada, a companhia livra-se dos aparelhos que não vendeu e dos operários que os produziram.
É cada vez mais cruel a relação entre dinheiro e trabalho. Empresas cada vez mais fortes; operários cada vez mais fracos. Em uma sociedade onde, hipocritamente, apregoa-se a livre concorrência, empresas cada vez maiores "devoram" empresas menores sem a menor piedade. É muita hipocrisia falar em livre concorrência quando a diferença de tamanho dos concorrentes é tão disparatada. E nessa prática canibalesca adotada pelas enormes empresas são os operários que vão para o caldeirão. E quando a "devoradora" é a Microsoft, aqueles que serão "devorados", voluntariamente resignados, irão para o caldeirão com um celular na mão.
E ao ler uma notícia como essa, é inevitável vir a minha mente a seguinte questão: será que, algum dia, provocada por esse insaciável canibalismo praticado pelas empresas, essa crescente massa de desempregados conseguirá livrar-se de sua vocação para a resignação individual e partir para uma inadiável reação coletiva?

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