Para o pesquisador britânico, especialista em educação superior, esses cursos dão aos formados "excesso de confiança em suas habilidades para tomar decisões" e produzem "gerentes sem visão histórica ou sociológica do mundo"Professor emérito do Instituto de Educação da Universidade de Londres, Robert Cowen esteve no Rio na semana passada participando de um workshop sobre Inovação e Educação, na Universidade Estácio de Sá. Em entrevista ao Globo, ele criticou o formato dos cursos de MBA no mundo e disse que, no Brasil, "a última coisa que vocês precisam é de um bando de tecnocratas pensando em como organizar o país".No Brasil, há quem critique o fato de darmos muita ênfase ao ensino de humanidades, e investirmos pouco em carreiras tecnológicas. Como o senhor se posicionaria neste debate?É uma discussão internacional. No ano passado, tivemos um caso no Reino Unido de uma brilhante escritora e professora de Literatura da Universidade de Essex, Marina Warner, que se demitiu criticando os dirigentes daquela instituição. Ela disse que eles estavam preocupados apenas em formar professores nessas áreas, e não pensadores. Por que há tantos historiadores entre os executivos das empresas mais importantes na Inglaterra? Porque as pessoas no mercado têm que absorver um volume enorme de dados e ser hábeis em fazer julgamentos importantes diante de informações incompletas. É exatamente o desafio que um historiador enfrenta. Você não precisa de um MBA para isso, apesar de os MBAs terem virado um modismo.Qual o problema com os MBAs?Eles produzem um grande número de gerentes sem visão histórica ou sociológica. O diploma de MBA hoje em dia é até perigoso, pois dá as pessoas um excesso de confiança em suas habilidades parar tomar decisões. É claro que há instituições de altíssimo nível que oferecem bons cursos, mas o MBA virou um negócio lucrativo que ensina muito sobre técnicas, mas nada sobre sabedoria. Não acho uma boa ideia deixar as decisões mais importantes nas mãos de técnicos. Eu me lembro do desastre americano no Vietnã, quando eles achavam que estavam ganhando a guerra porque faziam uma contagem de mortos de cada lado. Foi um erro gigantesco, baseado num modo extremamente tecnocrático e não intelectual de tomar decisões em cima dos dados. No Brasil, um país com tantas questões sociais importantes, certamente a última coisa que vocês precisam é de um bando de tecnocratas pensando em como organizar o país."O MBA virou um negócio lucrativo que ensina muito sobre técnicas, mas nada sobre sabedoria"
Estas são duas das quatro perguntas de uma reportagem-entrevista de Antônio Gois, publicada na edição de 21 de junho de 2015 do jornal O Globo.
"O MBA virou um negócio lucrativo que
ensina muito sobre técnicas, mas nada sobre sabedoria.", diz Robert Cowen "criticando
o formato dos cursos de MBA no mundo." E ao dizê-lo me faz lembrar o
seguinte questionamento de T. S. Eliot:
"Onde está a vida que perdemos na existência?Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?Onde está o conhecimento que perdemos na informação?"
Onde está a sabedoria que perdemos ao nos ser
ensinado muito sobre técnicas, sobre informação, enfim, sobre tecnologia da
informação, mas nada sobre a arte de olhar a realidade com "visão
histórica ou sociológica". Afinal, neste planeta no qual sobrevivemos, historicamente, nossas grandes questões sempre
foram de natureza social. E considerando
que a verdadeira solução de qualquer questão só ocorre quando solução e
problema têm a mesma natureza, imaginar ser possível solucionar problemas
sociais de modo tecnocrático é, mais uma vez, validar a célebre afirmação de Albert
Einstein. "Existem apenas duas coisas infinitas- o Universo e a estupidez
humana. E não tenho tanta certeza quanto ao Universo.".
"No Brasil, um país com tantas questões
sociais importantes, certamente a última coisa que vocês precisam é de um bando
de tecnocratas pensando em como organizar o país.", diz Robert Cowen na
última frase da reportagem-entrevista.
Minha discordância em relação ao parágrafo
acima é em termos de abrangência, pois questões sociais importantes existem na quase
totalidade dos países que compõem este planeta habitado por uma dita espécie
inteligente do Universo que até hoje não conseguiu aprender a conviver harmoniosamente
com os demais seres de sua espécie. E que não será por intermédio dos atuais
cursos de MBA que conseguirá aprender.
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