Campanha da empresa abre debate sobre uso excessivo da sua própria tecnologia"De simples aparelho para fazer e receber ligações, o celular se transformou nos últimos anos em um dispositivo multiuso, que manda mensagens a grupos de amigos, dá orientações sobre o trânsito e mostra as notícias do dia. As novas funcionalidades do aparelho acirraram a competição entre as operadoras brasileiras, que lançaram uma enxurrada de serviços e promoções convidando o cliente a falar "ilimitado" e ficar "sempre conectado". A Vivo decidiu agora ir na contramão. Em campanha que vai ao ar nesta semana, a empresa pede uma reflexão sobre o uso excessivo do celular."Será que a gente está usando o celular do jeito certo?", indaga o narrador do vídeo, feito pela agência DM9DDB. O filme traz uma sequência de situações nas quais o uso do telefone é questionável: no trânsito, andando na rua, em reuniões de amigos e na mão de crianças. "O que é certo? O que é errado? Vamos falar sobre isso", convida o narrador.A decisão da Vivo de entrar no debate ocorre após a divulgação de uma série de pesquisas que apontam os problemas que a tecnologia pode provocar na sociedade. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego, por exemplo, demonstra que dirigir e enviar mensagens aumenta em 23 vezes a chance de acidentes. Há também crescentes discussões sobre uma espécie de obsessão pelo celular que faz com que as pessoas deixem de viver o mundo offline."Como empresa líder no mercado de telefonia, não podemos fingir que este debate não está acontecendo. A tecnologia pode, sim, ser prejudicial ao consumidor se usada da forma incorreta", disse a diretora de Imagem e Comunicação da Vivo, Cris Duclos.A Vivo começou a testar o assunto no início do ano nas redes sociais com a hashtag "usarbempegabem", dando nova vida ao slogan "pegabem" criado pela empresa para destacar a qualidade do sinal. De acordo com o vice-presidente de criação da DM9DDB, Marco Versolato, a boa aceitação do público motivou a empresa a ampliar a campanha. Além do vídeo, a Vivo vai criar um site para oferecer conteúdo sobre o tema, como transmissões de palestras de especialistas.Questionado se não é incoerente uma empresa de telefonia lançar uma campanha pedindo o uso moderado do celular, Versolato diz que não. "Isso é uma maturidade da comunicação de uma marca. O que se espera é que ela fale bem do seu produto e ignore o lado sombrio da tecnologia. Mas em tempos de redes sociais e informação disseminada, não dá mais para fazer isso. Tem de ser uma conversa franca."Ao entrar num debate polêmico sobre o próprio negócio, a Vivo busca melhorar sua reputação com os consumidores, afirmou o diretor acadêmico de Graduação da ESPM, Ismael Rocha. "Hoje tecnologia virou commodity. Há pouca diferença nos pacotes das operadoras. A decisão de compra será cada vez mais pela marca.".Rocha lembrou que a criação de campanhas que pedem o uso moderado do próprio produto já são recursos recorrentes na indústria de bebidas e nas distribuidoras de água e energia elétrica. A Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) mantém um portal batizado de "Sem Excesso" desde 2011 com informações sobre os danos provocados pelo álcool à saúde e a sociedade. "A indústria visa o lucro e é claro que quer vender o seu produto. Mas defendemos o consumo comemorativo, responsável. Não é bom para a indústria ter o produto associado a problemas gerados pelo excesso", disse a diretora executiva da Abrabe, Naíde Araújo."
Esta é a íntegra de uma reportagem de Marina
Gazzoni, publicada na edição de 13 de julho de 2015 do jornal O Estado de S.
Paulo.
"A tecnologia
pode, sim, ser prejudicial ao consumidor se usada da forma incorreta",
disse a diretora de Imagem e Comunicação da Vivo, Cris Duclos. (...) "O
que se espera é que a empresa fale bem do seu produto e ignore o lado sombrio
da tecnologia.", diz Marco Versolato, vice-presidente de criação da agência
DM9DDB.
A profissional da Vivo consegue reconhecer que
"a tecnologia pode ser prejudicial ao consumidor, se usada de forma
incorreta", o profissional da agência publicitária consegue enxergar a
existência de "um lado sombrio na tecnologia". E os consumidores
prejudicados, quando conseguirão reconhecer tais coisas?
"Uma pesquisa da Associação Brasileira de
Medicina do Tráfego, por exemplo, demonstra que dirigir e enviar mensagens
aumenta em 23 vezes a chance de acidentes." E aumentada a chance de
acidentes consequentemente aumenta também a chance de mortes, ou seja, a chance
de abandonar o mundo dos vivos, e automaticamente o mundo da Vivo, o que não interessa à operadora.
"Hoje tecnologia
virou commodity. Há pouca diferença nos pacotes das operadoras. A decisão de
compra será cada vez mais pela marca.", diz Ismael Rocha, diretor
acadêmico de Graduação da ESPM. E diz também: "Ao entrar num debate
polêmico sobre o próprio negócio, a Vivo busca melhorar sua reputação com os
consumidores.". Ou seja, se "cada vez mais a decisão de compra será
pela marca", a reputação da empresa terá cada vez mais influência em tal
decisão. Portanto, mais do que uma questionável elevação de seu "caráter"
o que motiva o comportamento da operadora é a sua própria sobrevivência.
A ida a um dicionário
para pesquisar os significados para a palavra vivo traz, entre muitos outros, os dois seguintes: esperto,
matreiro. Esperteza! Eis, no meu entender, uma das coisas que estão por trás da
referida propaganda. Uma propaganda engendrada por algum profissional muito vivo. Uma propaganda por meio da qual a operadora,
a meu ver, justifica o próprio nome. Por outro lado, entendo que o que ela pede também é bom para os consumidores. Ou seja, eis uma propaganda adequada até para
o Banco do Brasil. Por quê? Porque o
que ela pede é "bom pra todos". E se é bom pra todos, segue o
endereço para que todos assistam a propaganda: http://www.usarbempegabem.com.br/
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