sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O 'vale tudo' da Volks para chegar ao topo

Meta de ser maior do mundo pode ter sido a origem de escândalo de testes ambientais
O presidente da Volkswagen, Martin Winterkorn, subiu ao palco quatro anos atrás na nova instalação da montadora em Chattanooga, no Tennessee, para apresentar uma ousada estratégia. Ele disse que a empresa queria triplicar as vendas nos Estados Unidos em uma década – colocando-a no rumo para superar a Toyota e se tornar a maior fabricante de carros do mundo. "Até 2018, queremos levar o grupo ao topo da indústria global", disse, na inauguração da primeira fábrica americana da Volkswagen em décadas.
Para atingir a meta, a Volkswagen apostava em carros a diesel – em vez de veículos híbridos elétricos como o Prius, da Toyota –, prometendo alto rendimento e baixas emissões. A ambição desenfreada da Volkswagen se tornou peça central para um dos maiores escândalos corporativos recentes.
Na terça-feira, a Volkswagen admitiu ter instalado um software em 11 milhões de carros movidos a diesel que enganavam testes de emissão, permitindo que os veículos soltassem muito mais poluentes do que o permitido pela legislação. Cerca de 500 mil desses carros foram vendidos nos EUA, incluindo os saídos da linha de montagem de Chattanooga.
O desligamento dos controles de emissões trouxe vantagens, incluindo um rendimento melhor – um dos principais argumentos da Volkswagen na sua tentativa de dominar o mercado americano.
(...) A atual crise tem raízes em decisões tomadas há quase dez anos. Em 2007, a empresa abandonou uma tecnologia de controle de poluentes desenvolvida por Mercedes e Bosch, usando em vez disso uma tecnologia interna. Na mesma época, a determinação de Winterkorn em ultrapassar a Toyota trouxe para os administradores de nível intermediário uma enorme pressão para produzir crescimento nos EUA.
Para aumentar a participação no mercado, a Volkswagen, que também fabrica carros da Audi e da Porsche, teria de construir os carros maiores que os americanos preferem. Mas a empresa também seria obrigada a atender às regulamentações mais rigorosas do governo Obama envolvendo o rendimento. Todas as montadoras desenvolveram estratégias para satisfazer às novas regras de rendimento, e o diesel era parte importante do plano da Volkswagen. No entanto, embora o motor a diesel ofereça melhor rendimento, ele também emite mais poluentes.
Trapaça. Enquanto trapaceava nos bastidores, a Volkswagen apresentava uma imagem pública virtuosa. A empresa usou o Super Bowl, um dos maiores espaços da publicidade mundial, para exibir um anúncio em que seus engenheiros tinham asas de anjo. Agora, o escândalo abala a imagem da montadora, vista por um longo tempo como símbolo de eficiência da engenharia alemã.
Mas este não é o primeiro caso de problemas da marca com o meio ambiente. Quando os EUA começaram a controlar a emissão de poluentes nos escapamentos, nos anos 1970, a Volkswagen foi uma das primeiras empresas flagradas trapaceando. Na época, teve de pagar multa de US$ 120 mil por instalar nos veículos um dispositivo que desativava os sistemas de controle de poluentes de um veículo.
Estes são alguns trechos de uma reportagem publicada na edição de 28 de setembro de 2015 do jornal O Estado de S. Paulo, com a indicação de ter sido publicada no The New York Times e com a tradução atribuída a Augusto Calil.
Segundo opinião expressa no subtítulo da reportagem, a condenável prática da Volkswagen "pode ter sido originada pela meta de ser a maior do mundo". Opinião difícil de contestar considerando que ela está inteiramente em conformidade com uma ideia absurdamente dominante com a qual uma minoria subjuga a maioria dos integrantes desta dita espécie inteligente (sic) do Universo: a competitividade.
Na condição de principal pilar da excludente economia de mercado, a competitividade é o que está por trás, à frente e ao lado de praticamente tudo o que a maioria (sempre ela!) faz pela vida afora. Maioria na qual incluem-se até mesmo indivíduos pertencentes à algumas minorias privilegiadas, das quais o presidente da Volkswagen é um exemplo, conforme demonstra o parágrafo abaixo.
"O presidente da Volkswagen, Martin Winterkorn, subiu ao palco quatro anos atrás na nova instalação da montadora em Chattanooga, no Tennessee, para apresentar uma ousada estratégia. Ele disse que a empresa queria triplicar as vendas nos Estados Unidos em uma década – colocando-a no rumo para superar a Toyota e se tornar a maior fabricante de carros do mundo. 'Até 2018, queremos levar o grupo ao topo da indústria global', disse, na inauguração da primeira fábrica americana da Volkswagen em décadas."
"Superar a Toyota e se tornar a maior fabricante de carros do mundo"! Ou seja, em conformidade com a prática da competitividade, a ideia é superar o concorrente. Ou melhor ainda, se for possível, aniquilá-lo. E sendo assim, conforme é dito no título da reportagem, 'vale tudo' para chegar ao topo. E 'vale tudo' mesmo, conforme demonstra o parágrafo abaixo. 
"Enquanto trapaceava nos bastidores, a Volkswagen apresentava uma imagem pública virtuosa. A empresa usou o Super Bowl, um dos maiores espaços da publicidade mundial, para exibir um anúncio em que seus engenheiros tinham asas de anjo. Agora, o escândalo abala a imagem da montadora, vista por um longo tempo como símbolo de eficiência da engenharia alemã."
Engenheiros com asas de anjo, produzindo coisas que o diabo assinaria! Realmente, 'vale tudo' para chegar ao topo. Quanto ao abalo à imagem da montadora, talvez não haja muito com que ela deva preocupar-se. Afinal, como é dito na reportagem "este não é o primeiro caso de problemas da marca com o meio ambiente", pois "Nos anos 1970, a Volkswagen foi uma das primeiras empresas flagradas trapaceando. Na época, teve de pagar multa de US$ 120 mil por instalar nos veículos um dispositivo que desativava os sistemas de controle de poluentes de um veículo.".
Ou seja, em termos de trapaças em relação ao controle da emissão de poluentes nos escapamentos, a Volkswagen já tem no mínimo duas ocorrências. Sim, no mínimo duas, pois sabe-se lá se outras trapaças foram feitas sem serem descobertas. Sendo assim, se ela sobreviveu bem à trapaça feita - e descoberta - há quatro décadas, será que abalar-se-á com esta? Quem viver verá! Mas algo que pode ser visto já é uma foto do anúncio citado no segundo parágrafo acima.

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