Possibilidade de usar o plástico e não apenas dinheiro aumenta a disposição para pagar mais por um produtoConsumo em troca de milhas aéreas e pontos em programas de fidelidade elevam os gastos desnecessáriosNina Falcone desistiu do dinheiro. Sempre que possível, e onde possível, mesmo em máquinas de venda automática instaladas em seu edifício em Chicago, ela usa seu cartão de crédito do programa de fidelidade da companhia aérea Southwest Airlines para acumular pontos. Ela segue o conselho dos serviços de assistência ao consumidor e não mantém saldo devedor por mais de um mês, nem paga os juros cobrados por cartões. Mas admite que talvez existam lados negativos nessa facilidade de compra. Uma pilha de revistas "Time" se formou em seu apartamento, juntando poeira, depois que ela adquiriu uma assinatura simplesmente porque esta oferecia pontos adicionais."Há anos não pago pelas viagens que faço via Southwest", diz Falcone, o que pode ser tecnicamente verdade, mas muitas pesquisas sugerem que os consumidores tendem a gastar mais pagando com plástico do que fariam se pagassem em dinheiro. Incentivos como a milhagem em companhias aéreas só servem para fazer aumentar uma tentação com a qual bancos lucram há anos."Quando você varia o método de pagamento, as pessoas se dispõem a pagar mais", disse Duncan Simester, professor de marketing no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) que publicou um estudo importante sobre o assunto. "Você não está desembolsando dinheiro de verdade, por isso a sensação de perda é menor". Usando alunos de um programa de MBA como cobaias, Simester e um colega, Drzen Prelec, realizaram um leilão de ingressos de basquete e beisebol para jogos de duas equipes locais, o Boston Celtics e o Boston Red Sox.Alguns participantes foram informados de que teriam que usar o cartão de crédito, enquanto outros pagariam em dinheiro. Quando o cartão estava entre as opções, os alunos se ofereciam para pagar cerca de duas vezes. Ele acrescentou que embora não fosse incomum ver variações de 5% a 10% entre os padrões de pagamento, "você não vê muitos exemplos de pessoas que se dispõem a oferecer o dobro do que ofereceriam caso estivessem pagando com outro método"."Mas a facilidade de pagar pelas compras com plástico, ou o que os profissionais de marketing definem como "gasto sem fricção", é só metade da história. Cientistas sociais constataram que consumidores estão condicionados até pelo logotipo do cartão. Richard Feinberg, da Universidade Purdue, convenceu restaurantes próximos do campus, em West Lafayette, Indiana, a permitir que ele estudasse os padrões de gastos de fregueses reais. Ele colocou logotipos de cartões de crédito em algumas mesas e os excluiu de outras. A visão de imagens associadas ao plástico levava consumidores a gastar mais em suas refeições e a deixar gorjetas maiores.A chave, diz Greg McBride, analista financeiro chefe do Bankrate.com, site de finanças pessoais, é tentar exercer a mesma disciplina no uso do plástico que você teria se estivesse pagando em dinheiro. Se você não consegue se conter, ou ocasionalmente precisa rolar o saldo devedor para o próximo mês, evite os cartões de incentivo a todo custo. "Eles só funcionam para os clientes que pagam o saldo integral a cada mês", ele disse, como Falcone faz, escrupulosamente.
Esta é a íntegra de uma reportagem publicada
na edição de 4 de abril de 2016 do jornal Folha de S.Paulo, com a indicação de ter sido
publicada no The New York Times e com tradução atribuída a Paulo
Migliacci.
"Cartões de crédito estimulam gasto maior",
pois "A facilidade de pagar pelas compras com plástico, ou o que os
profissionais de marketing definem como 'gasto sem fricção' aumenta a disposição para pagar mais por um
produto." E a comprar coisas das quais não se necessita. "Uma
pilha de revistas 'Time' se formou em seu apartamento, juntando poeira, depois
que ela adquiriu uma assinatura simplesmente porque esta oferecia pontos
adicionais.", diz Nina Falcone que, embora tenha desistido do dinheiro,
admite que talvez existam lados negativos na facilidade de compra com cartões
de crédito.
"Só dinheiro. Para não gastar além do limite, pague tudo em dinheiro. Quando acabar, acabou. Você vai pensar três vezes antes de comprar se tiver de usar dinheiro. Ele é finito, se você comprar o sapato, vai faltar para o encontro com as amigas combinado há tanto tempo. Um exercício de escolha a cada compra. Cartão de crédito. Cancele, tranque numa gaveta e perca a chave, coloque em um copo com água no freezer. Saia de casa sem ele, desapegue. Pense que a maldita fatura chega e o pagamento mínimo não é opção. Pagar juros de 15% ao mês? Loucura! Quintuplicar o valor da bolsa que comprou? Você está brincando de "leve um e pague quatro", rasgando dinheiro."
O parágrafo acima foi extraído da coluna de Márcia
Dessen (planejadora financeira pessoal, diretora do IBCPF [Instituto
Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros] e autora do livro "Finanças
Pessoais: O que Fazer com meu Dinheiro") publicada na edição de 28 de
março de 2016 do jornal Folha de S.Paulo,
em sua coluna semanal das segundas-feiras.
"Você não está desembolsando dinheiro de
verdade, por isso a sensação de perda é menor", diz Duncan Simester,
professor de marketing no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) que
publicou um estudo importante sobre o assunto. Uma sensação de perda menor devida
a não ter desembolsado dinheiro de verdade na hora da compra. Verdade e hora,
duas palavras que voltarão a encontrar-se na chegada da fatura do cartão. Por
quê? Porque a chegada da fatura é também a chegada da hora da verdade, pois se na
compra o dinheiro desembolsado não era de verdade, o mesmo não acontece com a
fatura, que é de verdade.
Há uma frase que ouvi de um ex-colega de
trabalho que talvez seja a melhor definição de cartão de crédito. "Cartão
de crédito é algo que as pessoas usam para comprar coisas das quais não
necessitam com dinheiro que não têm.".
Cartões de crédito é um tema sobre o qual já
tive oportunidade de publicar três postagens no blog Espalhando ideias. Para evitar repetir aqui coisas já ditas em tais
postagens, seguem os links para aqueles que quiserem ler mais sobre o assunto. A História Secreta do Cartão de Crédito
(16 de setembro de 2011), Reflexões provocadas pela história secreta do cartão de crédito (22 de setembro de
2011) e O segundo do espanto (23 de
setembro de 2011).
Nenhum comentário:
Postar um comentário