quinta-feira, 28 de julho de 2016

Casa 'compartilhada' vira opção em São Paulo

Próxima do conceito de co-housing, ideia é utilizar casas enormes para convivência de até dez pessoas sem relação de parentesco
São casas enormes, com quatro, cinco, seis quartos. Nelas vivem cerca de dez pessoas, sem relação de parentesco. São comunidades: se consideram parte da mesma família e compartilham a maior parte dos espaços – com exceção, na maior parte das vezes, dos quartos. À primeira vista, podem se parecer com repúblicas estudantis, mas, ao contrário do primeiro caso, quem vive ali o faz intencionalmente – e não por aperto financeiro – e todos são profissionais no pleno exercício de suas carreiras.
"Os moradores das "casas compartilhadas" de São Paulo se aproximam do conceito de co-housing – surgido nos anos 1970 na Dinamarca e popularizado nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França e em outros países da Europa a partir do fim dos anos 1980. "Nunca mais moro em prédio, nunca mais moro sozinha. Não consigo mais me imaginar vivendo em apartamento ou em uma casa onde você nem sequer conhece os vizinhos", afirma, convicta, a atriz, jornalista e gestora cultural Carolina Guedes, de 33 anos. Depois de se divorciar, ela saiu do apartamento em Higienópolis. Vive com a filha, Maria Beatriz, de 5 anos, na Casa de Trocas, no Pacaembu. "Essa vida em comunidade está sendo incrível", avalia Carolina. "Tenho a sensação de que somos uma família."
(...) Uma das idealizadoras desse espaço comunitário é a arquiteta Inês Fernandes, de 27 anos. "Era um sonho antigo: uma vida compartilhada e mais sustentável. Então comecei a chamar alguns amigos", diz ela, que trocou o apartamento em Pinheiros pela nova vida em agosto.
(...) Em Perdizes está a Casa da Gente, projeto concebido em 2014. Vivem ali nove pessoas. "Em minha cabeça é uma evolução natural: primeiro você mora com os pais, depois vai estudar e vive em uma república; aí passa a viver sozinho e depois, quem está a fim, dá um passo além e acaba em um espaço compartilhado como este", afirma o empresário Winston Petty, de 37 anos.
Conceito. Especialista em co-housings, a arquiteta e urbanista Lilian Avivia Lubochinski é taxativa: de acordo com o conceito, não existe ainda nenhuma experiência do tipo no Brasil. "Há grupos que vivem em 'casas compartilhadas' e têm o propósito de avançar mais em breve", explica.
Segundo Lilian, dentro do que é conhecido como "comunidades intencionais", as "casas compartilhadas" são experiências que, ao contrário das repúblicas ou dos cortiços, unem pessoas que estão lá por opção, por intenção. "Elas resolvem diminuir seu custo fixo de vida para poder ter mais liberdade", define.
(...) Já co-housing de fato é uma comunidade que consegue resolver a questão da vida em comunidade com privacidade. "Pode ser uma vila, pode ser um prédio. Cada indivíduo ou família tem a sua própria casa, com seus próprios espaços. Mas a gestão é consensual, muitos bens – carros, por exemplo – podem ser compartilhados, as compras e custos comuns são coletivos", exemplifica. "E há espaços de uso comum, como lavanderia e horta."
Estes são alguns trechos de uma reportagem de Edison Veiga publicada na edição de 1 de maio de 2016 do jornal O Estado de S. Paulo.
"Em minha cabeça é uma evolução natural: primeiro você mora com os pais, depois vai estudar e vive em uma república; aí passa a viver sozinho e depois, quem está a fim, dá um passo além e acaba em um espaço compartilhado como este", afirma o empresário Winston Petty, de 37 anos.
Acho interessante o ponto de vista de Winston e concordo que seja uma evolução natural. Nascendo dependente de alguém que dele cuide, ao crescer o indivíduo passa a almejar viver sem alguém que "meta-se na sua vida", ou seja, a querer ser independente. Passando a viver sozinho, com o passar do tempo, o indivíduo começa a perceber que viver é um trabalho em equipe, que independência é uma ilusão e, consequentemente, passa a interessar-se por compartilhamentos.
"Nunca mais moro em prédio, nunca mais moro sozinha. Não consigo mais me imaginar vivendo em apartamento ou em uma casa onde você nem sequer conhece os vizinhos", afirma, convicta, a atriz, jornalista e gestora cultural Carolina Guedes, de 33 anos. (...) Vive com a filha, Maria Beatriz, de 5 anos, na Casa de Trocas, no Pacaembu. "Essa vida em comunidade está sendo incrível", avalia Carolina. "Tenho a sensação de que somos uma família."
"Ter a sensação de ser uma família"! E ao ler essa frase, eu voltei no tempo para resgatar uma reportagem publicada em 14.05.1992 (sim, há 24 anos), no extinto Jornal do Brasil, com o título Alugam-se avós, filhos, netos... Uma reportagem na qual é citada "uma empresa de Tóquio que estava fazendo um negócio estrondoso ao alugar famílias para pessoas solitárias". Ou seja, pessoas que pagavam para ter a sensação de ter uma família. Sim, por mais que se tente equivocadamente desvalorizar a importância da família, o fato é que a ausência da sensação de pertencer a uma delas causa um estrago, muitas vezes irremediável, na vida de um indivíduo. Quem quiser ler tal reportagem clique nos links apresentados a seguir: Alugam-se avós, filhos, netos... (I) e Alugam-se avós, filhos, netos... (final).
Os moradores das "casas compartilhadas" de São Paulo se aproximam do conceito de co-housing – surgido nos anos 1970 na Dinamarca e popularizado nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França e em outros países da Europa a partir do fim dos anos 1980. A diferença em relação a tal conceito é apresentada na reportagem pela arquiteta e urbanista Lilian Avivia Lubochinski.
"Já co-housing de fato é uma comunidade que consegue resolver a questão da vida em comunidade com privacidade. 'Pode ser uma vila, pode ser um prédio. Cada indivíduo ou família tem a sua própria casa, com seus próprios espaços. Mas a gestão é consensual, muitos bens – carros, por exemplo – podem ser compartilhados, as compras e custos comuns são coletivos', exemplifica. 'E há espaços de uso comum, como lavanderia e horta', diz Lilian."
"Uma comunidade que consegue resolver a questão da vida em comunidade com privacidade.". Ou seja, uma comunidade onde todos sabem que na vida existem dois tipos de coisas: particulares e comuns. E onde todos sabem também que a responsabilidade de cuidar das coisas comuns cabe a todos da comunidade, e não a ninguém como, equivocadamente, pensa a maioria dos indivíduos que habitam este planeta.
Considerando que a interdependência pode ser vista como uma "lei" universal, pois nada e ninguém independem de todas as demais coisas e / ou todos os demais indivíduos que existem, mutatis mutandis, faço, a partir do título da reportagem, digamos, um rodapé para a postagem: "Vida 'compartilhada' vira solução em qualquer lugar onde for bem praticada."

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