quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Adolescentes deixam escola para buscar emprego

Desemprego na faixa dos 14 aos 17 anos é de quase 40%, ao mesmo tempo em que taxa de matrícula no ensino médio tem queda recorde
A deterioração no mercado de trabalho levou a um aumento na busca de adolescentes por emprego, o que está ajudando a piorar a evasão escolar no País. A taxa de desemprego na faixa etária entre 14 e 17 anos foi a que registrou maior aumento no segundo trimestre de 2016 ante o mesmo período do ano anterior: passou de 24,4% para 38,7%. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (...) O resultado coincide com uma queda mais acentuada nas matrículas do ensino médio, apontada pelo último censo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
(...) "À medida que as pessoas de mais importância no domicílio perdem o emprego, a tendência é que os outros moradores busquem um trabalho ou ajudem um parente em alguma atividade para complementar a renda da família. Durante a crise, a perda do emprego tem esse efeito de abandono escolar, de queda nas matrículas", explicou Sandro Sacchet, pesquisador da Diretoria de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O aumento na taxa de desemprego entre os adolescentes acompanha a deterioração no mercado de trabalho como um todo. (...) O aumento no número de jovens em busca de uma vaga acompanha, sobretudo, a perda do emprego pelos chefes de família, grupo majoritariamente formado por pessoas entre 40 a 59 anos. Segundo avaliação do coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, a redução no número de postos com carteira assinada e a queda na renda do trabalhador são os fatores que levam a maior busca por uma vaga. Os demais integrantes da família, que não trabalhavam, passam a procurar um emprego para ajudar a compor a renda e estabilidade perdidas.
"A recessão, que reduziu a renda familiar, obriga pessoas a voltarem o foco para o mercado de trabalho. Às vezes, as pessoas não conseguem estudar e trabalhar ao mesmo tempo e vão só procurar emprego. Agora é um momento em que falta dinheiro em casa, então o filho também vai buscar trabalho", explicou Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador de Economia Aplicada do IBRE/FGV.
As duas principais razões para a evasão escolar são o mau rendimento e o trabalho infantil, de acordo com um relatório do Unicef, citado pela secretária Executiva do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPE-TI), Isa de Oliveira. "A Pnad não mede a qualidade do trabalho que está sendo procurado. O único trabalho permitido legalmente para adolescentes de 14 a 17 anos é o de aprendiz. Em geral, as outras formas de ocupação de adolescentes são degradantes, penosas e perigosas", alertou Isa.
Estes são alguns trechos de uma reportagem de Daniela Amorim e Nathália Larghi publicada na edição de 30 de agosto de 2016 do jornal O Estado de S. Paulo.
"A vida humana consiste de três fases: vinte anos para aprender, vinte anos para lutar e vinte anos para atingir a sabedoria.", diz um antigo provérbio chinês. O tempo passou, a quantidade de anos que compõem a vida humana aumentou, a duração de cada uma das três fases mudou, porém o encurtamento das fases é algo que jamais funcionou.
Adolescentes deixam escola para buscar emprego, diz o título da reportagem. Ou seja, abandonam a fase em que deviam estar aprendendo para tentar ingressar na fase em que se luta. Por que fazem isso? Porque os que estão na fase de lutar, e lutando lhes proporcionarem a possibilidade de aprenderem, estão perdendo a luta ou dela sendo expulsos. Em outras palavras: estão ganhando cada vez menos ou ficando desempregados. E aí, desesperados e despreparados, pois não concluíram o aprendizado, os aprendizes vão à luta, obviamente, sem chance de vitória.
"O aumento na taxa de desemprego entre os adolescentes acompanha a deterioração no mercado de trabalho como um todo.", diz a reportagem em uma afirmação que considero óbvia demais, pois as causas do desemprego são estruturais, o que faz com que ele atinja todas as faixas etárias.
Quanto à iniciativa de os mais jovens, e consequentemente menos experientes, entrarem no mercado para ajudar os mais experientes, é algo que interpreto usando a seguinte analogia. Alguém, sem o devido preparo, lançando-se ao mar bravio para, no desespero, tentar salvar quem pelo mar está sendo tragado. Sabem como termina esse filme? Os dois morrem.
"O único trabalho permitido legalmente para adolescentes de 14 a 17 anos é o de aprendiz. Em geral, as outras formas de ocupação de adolescentes são degradantes, penosas e perigosas", alertou Isa de Oliveira, secretária Executiva do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPE-TI).
O problema é que se o legalmente é algo que já não funciona para as pessoas de mais importância no domicílio (expressão usada na reportagem) não é para os adolescentes que o legalmente funcionará. E aí o que sobrará para os adolescentes? As outras formas de ocupação que, segundo Isa de Oliveira, são degradantes, penosas e perigosas.
Estúpida espécie inteligente do universo! Das três fases em que consiste a vida humana, ela queima a primeira (fase do aprendizado), o que implica em estragar a segunda (fase para lutar) e, consequentemente, sai da vida sem passar pela terceira (fase para atingir a sabedoria).

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