Desemprego na faixa dos 14 aos 17 anos é de quase 40%, ao mesmo tempo em que taxa de matrícula no ensino médio tem queda recordeA deterioração no mercado de trabalho levou a um aumento na busca de adolescentes por emprego, o que está ajudando a piorar a evasão escolar no País. A taxa de desemprego na faixa etária entre 14 e 17 anos foi a que registrou maior aumento no segundo trimestre de 2016 ante o mesmo período do ano anterior: passou de 24,4% para 38,7%. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (...) O resultado coincide com uma queda mais acentuada nas matrículas do ensino médio, apontada pelo último censo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).(...) "À medida que as pessoas de mais importância no domicílio perdem o emprego, a tendência é que os outros moradores busquem um trabalho ou ajudem um parente em alguma atividade para complementar a renda da família. Durante a crise, a perda do emprego tem esse efeito de abandono escolar, de queda nas matrículas", explicou Sandro Sacchet, pesquisador da Diretoria de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).O aumento na taxa de desemprego entre os adolescentes acompanha a deterioração no mercado de trabalho como um todo. (...) O aumento no número de jovens em busca de uma vaga acompanha, sobretudo, a perda do emprego pelos chefes de família, grupo majoritariamente formado por pessoas entre 40 a 59 anos. Segundo avaliação do coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, a redução no número de postos com carteira assinada e a queda na renda do trabalhador são os fatores que levam a maior busca por uma vaga. Os demais integrantes da família, que não trabalhavam, passam a procurar um emprego para ajudar a compor a renda e estabilidade perdidas."A recessão, que reduziu a renda familiar, obriga pessoas a voltarem o foco para o mercado de trabalho. Às vezes, as pessoas não conseguem estudar e trabalhar ao mesmo tempo e vão só procurar emprego. Agora é um momento em que falta dinheiro em casa, então o filho também vai buscar trabalho", explicou Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador de Economia Aplicada do IBRE/FGV.As duas principais razões para a evasão escolar são o mau rendimento e o trabalho infantil, de acordo com um relatório do Unicef, citado pela secretária Executiva do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPE-TI), Isa de Oliveira. "A Pnad não mede a qualidade do trabalho que está sendo procurado. O único trabalho permitido legalmente para adolescentes de 14 a 17 anos é o de aprendiz. Em geral, as outras formas de ocupação de adolescentes são degradantes, penosas e perigosas", alertou Isa.
Estes são alguns trechos de uma reportagem de Daniela
Amorim e Nathália Larghi publicada na edição de 30 de agosto de 2016 do jornal O
Estado de S. Paulo.
"A vida humana
consiste de três fases: vinte anos para aprender, vinte anos para lutar e vinte
anos para atingir a sabedoria.", diz um antigo provérbio chinês. O tempo
passou, a quantidade de anos que compõem a vida humana aumentou, a duração de
cada uma das três fases mudou, porém o encurtamento das fases é algo que jamais
funcionou.
Adolescentes deixam
escola para buscar emprego, diz o título da reportagem. Ou seja, abandonam a fase em
que deviam estar aprendendo para tentar ingressar na fase em que se luta. Por
que fazem isso? Porque os que estão na fase de lutar, e lutando lhes
proporcionarem a possibilidade de aprenderem, estão perdendo a luta ou dela
sendo expulsos. Em outras palavras: estão ganhando cada vez menos ou ficando
desempregados. E aí, desesperados e despreparados, pois não concluíram o
aprendizado, os aprendizes vão à luta, obviamente, sem chance de vitória.
"O aumento na taxa de desemprego entre os
adolescentes acompanha a deterioração no mercado de trabalho como um todo.",
diz a reportagem em uma afirmação que considero óbvia demais, pois as causas do
desemprego são estruturais, o que faz com que ele atinja todas as faixas
etárias.
Quanto à iniciativa de os mais jovens, e
consequentemente menos experientes, entrarem no mercado para ajudar os mais
experientes, é algo que interpreto usando a seguinte analogia. Alguém, sem o devido preparo, lançando-se ao mar
bravio para, no desespero, tentar salvar quem pelo mar está sendo tragado.
Sabem como termina esse filme? Os dois morrem.
"O único trabalho permitido legalmente
para adolescentes de 14 a
17 anos é o de aprendiz. Em geral, as outras formas de ocupação de adolescentes
são degradantes, penosas e perigosas", alertou Isa de Oliveira, secretária
Executiva do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil
(FNPE-TI).
O problema é que se o legalmente é algo que já não funciona para as pessoas de mais importância no domicílio (expressão usada na
reportagem) não é para os adolescentes que o legalmente funcionará. E aí o que sobrará para os adolescentes? As
outras formas de ocupação que, segundo Isa de Oliveira, são degradantes,
penosas e perigosas.
Estúpida espécie
inteligente do universo! Das três fases em que consiste a vida humana, ela
queima a primeira (fase do aprendizado), o que implica em estragar a segunda
(fase para lutar) e, consequentemente, sai da vida sem passar pela terceira
(fase para atingir a sabedoria).
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