sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Mulheres procuram 'Treinador de Mães'

Serviço específico de coaching ganha adeptas em SP; pacote de sessões sai por R$ 2,5 mil
Quando percebeu que estava gritando muito com os filhos, Ana Lúcia dos Santos buscou ajuda. Não de um familiar ou terapeuta, mas de uma "treinadora". "Eles ficavam magoados e eu ficava arrasada. Procurei o coaching porque precisava ser mais delicada com eles", afirma a artesã, de 39 anos, mãe de dois meninos: Matias, de 7, e Miguel, de 4.
Conhecido no ambiente corporativo, o coaching, método de autoconhecimento para alcançar resultados em pouco tempo, tem ajudado mães na comunicação com os filhos, na organização do tempo entre casa e trabalho e a vencer etapas como o desmame do bebê e a introdução de alimentos. Dilemas para conciliar carreira e maternidade também entram com frequência na pauta.
No caso de Ana Lúcia, as sessões de uma hora com uma coach, como é chamado o profissional que conduz o processo, ocorriam uma vez por semana, a distância, por meio de chamadas de vídeo. "Queria que ela me ajudasse a encontrar ferramentas para reconhecer o gatilho do meu descontrole."
Durante três meses, ela relembrava as brigas, enquanto a profissional a ajudava a enxergar os motivos. Até "lição de casa" era passada: a cada semana, Ana Lúcia retornava com anotações sobre o que tinha acontecido. "Consegui reconhecer o que cada um precisava e a forma de linguagem mais adequada."
Apesar de ser uma ferramenta para a solução de questões específicas, como ocorreu com Ana Lúcia, o coaching passa longe de oferecer um manual de instruções para as mães. "Não é uma consultoria. Tenho mais perguntas e menos respostas. Meu incentivo é para que cada mulher descubra o seu caminho", explica a coach de mães Anna Gallafrio.
De modo geral, o trabalho começa na identificação do problema e na delimitação da meta. A partir disso, a mulher é estimulada a refletir sobre si mesma, as atividades que realiza, o tempo para cada tarefa e quais as alternativas possíveis para mudar a rota. O processo pode terminar até com um plano de ações. Segundo Anna Gallafrio, o malabarismo para dar conta de tudo é uma queixa recorrente das mães que procuram o coaching. "A gente até colore (um quadro de horários) para quer a mulher enxergue o tempo que passa com o filho, com ela mesma e o que dedica ao casal, que também está em adaptação."
Estes são alguns trechos de uma reportagem de Júlia Marques publicada na edição de 2 de outubro de 2016 do jornal O Estado de S. Paulo.
Atraído pela estranheza do título, ao ler o subtítulo, tive a atração transformada em provocação, e eu explico. Até a minha aposentadoria (ocorrida há seis anos), 60% do tempo da minha atual passagem por esta dimensão fora consumida com as minhas atividades profissionais no "teatro corporativo". Sendo assim, uma coisa que ainda não consigo fazer é "passar batido" por algo que remeta-me às 3,7 décadas que passei no referido teatro. Foi esse o motivo que fez com que, ao ler no subtítulo da reportagem a palavra coaching, eu não resistisse à tentação de ler toda a reportagem, e nela encontrar várias coisas sobre as quais senti vontade de opinar.
É impressionante a teimosia da maioria dos integrantes da tal da espécie inteligente do universo em contrariar a seguinte afirmação de Leonardo Da Vinci: "A simplicidade é o último grau de sofisticação". É impressionante a insistência do ser humano em complicar qualquer coisa. E para complicar qualquer coisa, denominá-la com um nome pomposo que contribua para impedir o entendimento do que ela seja é um ótimo começo.
"Conhecido no ambiente corporativo, o coaching, método de autoconhecimento para alcançar resultados em pouco tempo.(...)", eis uma afirmação feita no início do segundo parágrafo da reportagem.
"Apesar de ser uma ferramenta para a solução de questões específicas, o coaching passa longe de oferecer um manual de instruções. 'Não é uma consultoria. Tenho mais perguntas e menos respostas. Meu incentivo é para que cada mulher descubra o seu caminho'", explica uma coach de mães.
"De modo geral, o trabalho começa na identificação do problema e na delimitação da meta. A partir disso, a mulher é estimulada a refletir sobre si mesma.(...)", é mais uma afirmação contida na reportagem.
Após o que foi dito acima, ficou claro para vocês o que é coaching? Um método de autoconhecimento? Uma ferramenta para a solução de questões específicas? É ter mais perguntas e menos respostas? É incentivar para que cada um descubra o seu caminho e resolva o seu problema? Vocês enxergam alguma afinidade entre essas quatro "definições" apresentadas na reportagem? Eu, não.
E o que não é coaching, ficou claro? "Não é uma consultoria. Tenho mais perguntas e menos respostas. Meu incentivo é para que cada mulher descubra o seu caminho", explica uma coach de mães.
A postagem de 3 de abril de 2012 do blog Espalhando ideias é intitulada Os dois tipos de consultores. Quais são os dois tipos? O diretivo e o não diretivo. O que caracteriza cada um dos tipos? Em linhas gerais, consultor diretivo é aquele que fornece uma "solução" pronta, pois julga que conhece o problema do usuário, e este tem que se submeter a sua solução. Consultor não diretivo é aquele que ajuda o usuário a identificar o verdadeiro problema e juntamente com ele desenvolve a solução.
Ou seja, segundo o que acabo de dizer, "ter mais perguntas e menos respostas, e incentivar para que cada um descubra o seu caminho e resolva o seu problema" é uma caracterização de consultoria não diretiva, mas segundo a coach que trabalha dessa forma, coaching não é uma consultoria. Ser ou não, eis a questão!
Mulheres procuram 'Treinador de Mães', diz o título da reportagem. Afinal, elas estão perdidas sem saber como lidar adequadamente com os filhos. O problema é que, considerando a confusão sobre o que seja coaching, e até mesmo sobre o que não seja, a conclusão que chego é que trata-se de mais um caso para o qual vale a seguinte afirmação: Estamos diante de um grupo homogêneo: estão todos perdidos!

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