sexta-feira, 11 de maio de 2018

Assistente do Google poderá marcar horário em salão de beleza

Empresa mostrou novas tecnologias em evento na Califórnia, mas citou preocupação com uso excessivo de aparelhos
Um sistema de inteligência artificial capaz de escrever um email para o usuário com a sugestão de apenas algumas frases ou marcar um horário no salão de beleza pelo telefone conversando com um atendente humano. Essa foi a visão de futuro, às vezes nem tão distante, exibida ontem pelo Google na abertura de sua conferência de desenvolvedores anual, O Google I/O, em Mountain View, nos Estados Unidos.
No evento que durou cerca de duas horas, a empresa fez demonstrações de como a inteligência artificial vai chegar a muitos de seus serviços nas próximas semanas. "Estamos perto de um ponto de inflexão na computação", disse o presidente executivo do Google, Sundar Pichai. "A responsabilidade é maior e, embora a tecnologia possa ser uma força positiva, há questões sobre o impacto que ela poderá ter na nossa vida e precisamos seguir com cautela."
O discurso de abertura de Pichai deu o tom dos anúncios: apesar da visão progressista, o gigante das buscas também adotou postura sóbria em relação à sua responsabilidade em tópicos como privacidade e uso excessivo da tecnologia. Dois objetivos que parecem contraditórios, uma vez que, para os sistemas "aprenderem" mais sobre as pessoas, os usuários têm de usá-los mais e dividir dados.
O maior desafio em inteligência artificial, segundo o executivo, é aprimorar o assistente pessoal Google Assistant, presente em mais de 500 mil dispositivos em todo o mundo. Para isso, além de melhorar a capacidade do software de aprender, é também preciso aprimorar reconhecimento e processamento de voz.
No Google I/O, Pichai anunciou que avanços nessa área vão permitir que o Assistant ligue para um restaurante ou para um salão de cabeleireiro para reservar um horário. A demonstração impressionou o público presente na conferência pela semelhança com a fala humana. "Ainda achamos que vamos precisar de mais algum tempo para liberar isso", disse ele. "Se fizermos direito, pode ter impacto enorme na vida das pessoas."
Bem-estar. A empresa também exibiu preocupação com o uso excessivo de tecnologia ao falar da nova versão de seu sistema operacional, o Android P. "Vamos mostrar em um painel de controle que revela quantas vezes você desbloqueou o smartphone ou recebeu notificações ao longo do dia", disse Pichai. Na nova versão do Android, prevista para o fim do ano, haverá recursos, por exemplo, para determinar o tempo máximo de uso de um aplicativo ou um horário limite, à noite, para o smartphone receber notificações.
Apesar de ter citado a privacidade no evento, pouco se viu sobre o que o Google está fazendo para reduzir a coleta excessiva de dados dos usuários. Talvez o gigante das buscas ainda não tenha se dado conta, apesar do escândalo recente do Facebook e do início da vigência da nova lei de proteção de dados pessoais da União Européia, que o assunto está mais perto de bater à sua porta do que imagina.
Esta é a íntegra de uma reportagem de Claudia Tozetto (enviada a Mountain View [EUA]) publicada na edição de 09 de maio de 2018 do jornal O Estado de S. Paulo. A repórter viajou a Mountain View (EUA) a convite do Google.
"A responsabilidade é maior e, embora a tecnologia possa ser uma força positiva, há questões sobre o impacto que ela poderá ter na nossa vida e precisamos seguir com cautela.", disse o presidente executivo do Google, Sundar Pichai. "Vamos mostrar em um painel de controle que revela quantas vezes você desbloqueou o smartphone ou recebeu notificações ao longo do dia", disse também Pichai, em uma declaração classificada pela repórter como exibição de preocupação com o uso excessivo de tecnologia.
Ou seja, em um painel de controle será mostrado aos viciados em tecnologia o seu descontrole no uso da dita cuja. Sinistro, não? Por quê? Porque, no meu entender, o efeito será semelhante ao que se tem quando tenta-se mostrar a um alcoólico o seu descontrole no uso de bebidas alcoólicas. Ou seja, nenhum.
"Apesar de ter citado a privacidade no evento, pouco se viu sobre o que o Google está fazendo para reduzir a coleta excessiva de dados dos usuários", diz Claudia Tozetto. Ou seja, é aquela antiga e sinistra contradição entre o que se fala e que se faz. Contradição evidenciada pela repórter no seguinte trecho de sua interessante reportagem:
"O discurso de abertura de Pichai deu o tom dos anúncios: apesar da visão progressista, o gigante das buscas também adotou postura sóbria em relação à sua responsabilidade em tópicos como privacidade e uso excessivo da tecnologia. Dois objetivos que parecem contraditórios, uma vez que, para os sistemas "aprenderem" mais sobre as pessoas, os usuários têm de usá-los mais e dividir dados."
"No Google I/O, Pichai anunciou que avanços nessa área vão permitir que o Assistant ligue para um restaurante ou para um salão de cabeleireiro para reservar um horário. A demonstração impressionou o público presente na conferência pela semelhança com a fala humana.", diz Claudia Tozetto.
E ao revelar o efeito provocado no público pela demonstração feita pelo presidente executivo do Google, Claudia Tozetto me faz lembrar a seguinte passagem do livro "O Ato da Vontade", de Roberto Assagioli (psiquiatra italiano, pioneiro nos campos da Psicologia Humanística e Transpessoal e fundador da Psicossíntese), publicado no longínquo (!) ano de 1973.
"Se um homem de uma civilização anterior à nossa – um grego da Antiguidade, digamos, ou um romano – aparecesse de súbito entre os seres humanos do presente, suas primeiras impressões o levariam a considerá-los uma raça de mágicos, de semideuses. Mas fosse um Platão ou um Marco Aurélio e se recusasse a ficar deslumbrado ante as maravilhas materiais criadas pela tecnologia avançada e examinasse a condição humana com mais cuidado, suas primeiras impressões dariam lugar a uma grande consternação.
Verificaria que esse pretenso semideus que controla grandes forças elétricas com o mover de um dedo e inunda o ar de sons e imagens para divertimento de milhões de pessoas – é incapaz de lidar com as próprias emoções, impulsos e desejos."
Ou seja, independentemente da civilização (sic) em que esteja inserido, a impressão causada em um indivíduo pelo que ele tem diante de si é algo que está diretamente relacionado ao seu estágio evolutivo.
E após ter feito referências a Platão e a Marco Aurélio, encerro esta postagem com uma afirmação atribuída a Paulo de Tarso (0005 – 0067) que, no meu entender, definiria sua atitude diante das "maravilhas materiais criadas pela tecnologia avançada": "Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém." Será que tal afirmação nos sugere alguma coisa?

Nenhum comentário: