quinta-feira, 12 de julho de 2018

Berners-Lee quer agora consertar a web

O criador da World Wide Web, Tim Berners-Lee, reconhece que sua invenção, apesar de atingir metade da população global, fracassou. A centralização do poder nas gigantes do Vale do Silício resultou, diz ele, num ambiente anti-humano. Para tentar consertá-lo, Berners-Lee trabalha agora no projeto Solid, cujo objetivo é descentralizar a rede, garantir ao internauta controle sobre os próprios dados e sobre o conteúdo que produz – e recuperar o espírito democrático dos primórdios da internet.
Esta é a íntegra de uma notícia publicada na edição de 08 de julho de 2018 do jornal O Estado de S. Paulo, na coluna de Helio Gurovitz.
"Nossas invenções costumam tornar-se bonitos brinquedos que distraem nossa atenção das coisas sérias. Elas são tão somente meios aperfeiçoados para um fim não aperfeiçoado, um fim que já era fácil demais atingir, como estradas de ferro que levam de Boston a Nova York. Nós estamos com enorme pressa em construir um telégrafo magnético do Maine para o Texas; mas pode ser que o Maine e o Texas nada tenham de importante a comunicar. É como se o objetivo principal fosse falar depressa e não falar sensatamente." (os grifos são meus)
Ditas por Henry David Thoreau há 157 anos, as palavras acima foram lembradas por mim ao ler a notícia que provocou esta postagem. Notícia na qual é dito que alguém que criou algo que atinge metade da população global reconhece que sua invenção fracassou. Invenção que, por ter "caído em poder de seres errados", segundo o inventor, "resultou num ambiente anti-humano". Um ambiente anti-humano que, no meu entender, pode ser explicado pela seguinte afirmação de Alexis Carrel (1873 – 1944): "A civilização não tem como finalidade o progresso das máquinas, mas, sim o do homem." Considerando que nossa atenção volta-se inteiramente para as máquinas, a criação de ambientes anti-humanos torna-se uma consequência "natural" do descaso com o homem.
"Para tentar consertá-lo (o ambiente anti-humano) Berners-Lee trabalha agora em um projeto que busca recuperar o espírito democrático dos primórdios da internet.", diz a referida notícia. E ao ler isto, lembro de algo dito por Albert Einstein (1879 – 1955): "Não se pode resolver um problema usando o mesmo raciocínio que o criou". Em outras palavras, um problema criado usando o pensamento tecnológico não pode ser resolvido tecnologicamente.
Juntando as afirmações de Alexis Carrel e de Albert Einstein reproduzidas acima, chego à seguinte conclusão. Para solucionar os problemas resultantes da prioridade dada à tecnologia em detrimento do homem, creio que o caminho seja a busca da "convivência" ideal do homem com a tecnologia colocada ao seu dispor. E após as duas lembranças citadas nos dois parágrafos anteriores, o método das recordações sucessivas, me faz lembrar aqui o seguinte trecho da postagem publicada no blog Espalhando ideias em 16 de fevereiro de 2018.
"Perguntado sobre o que seus filhos pensavam do primeiro iPad, Steve Jobs, co-fundador da Apple, respondeu assim: "Eles não o usam. Nós limitamos a quantidade de tecnologia que nossos filhos usam em casa". E ao falar em "limitar a quantidade de tecnologia a ser usada" imediatamente me vem à mente uma afirmação de Amber Case citada na postagem O desafio da tecnologia é ser útil, publicada no blog Lendo e opinando em 23 de agosto de 2016, na qual é apresentada uma reportagem homônima publicada no jornal O Estado de S. Paulo. Qual é a afirmação? "A quantidade ideal de tecnologia na vida de uma pessoa é a mínima necessária.".
Limitar à mínima necessária a quantidade de tecnologia na nossa vida! Será essa a solução para escapar do ambiente anti-humano que Berners-Lee (o criador da World Wide Web) tenta consertar usando o mesmo raciocínio que resultou em tal ambiente? A quem parecerem absurdas a recomendação e a indagação que acabam de serem feitas, sugiro a leitura da reportagem de Rosane Serro publicada na edição de 07 de julho de 2018 do jornal O Globo. Intitulada Radicais livres, ela tem, na primeira página do jornal, uma chamada na qual, ao lado de uma foto de Jaron Lanier, estão as seguintes palavras: "SEM CONEXÃO...Trinta anos depois, profetas da internet como Jaron Lanier defendem a vida 'offline'." Com a intenção de aguçar-lhes a curiosidade, segue o subtítulo da reportagem.
"Precursores da internet se transformam em militantes anti-digital. Pensadores que viam o mundo virtual como a nova fronteira da Humanidade agora pregam a desconexão em massa e a volta ao analógico. Até o criador da World Wide Web se diz arrependido. Saiba o que fez os 'digerati' mudarem radicalmente de ideia em três décadas e veja como eles vivem em um planeta hiperconectado"
A reportagem de Rosane Serro é interessantíssima e vale a pena lê-la.

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