Nova York - Em 4 de dezembro de 2018, o bebê Arthur Lance Maddox Parker estreou no Instagram. Como legenda da foto, que mostrava um bebê adorável dormindo bem agasalhado, vinha o texto: "Apresento ao mundo o meu filho... Mamãe e o tio Maddox te amam muito Artie".Exatamente o que se poderia esperar de um anúncio de parto na internet. Exceto que não era verdade. A bebê da foto nasceu em fevereiro de 2016 e é filha de Emory Keller-Kurysh, 33, do Canadá. Keller-Kurysh tirou a foto com seu celular, em seu quarto na maternidade, e a publicou em sua conta no Instagram.Encontrei a foto de "Arthur" em uma comunidade do Instagram em que as pessoas brincam de serem pais e mães. Elas encontram fotos de bebês e crianças na internet e as postam fingindo que se trata de seus filhos. Sim, isso acontece. Procurei o dono da conta que postou a foto, mas não obtive resposta. Quando alertei o Instagram, parte do grupo Facebook, a empresa respondeu fechando a conta, por violação de suas regras de uso.A mãe real, Keller-Kurysh, mudou os termos de acesso à sua conta, que agora só permite que pessoas autorizadas por ela vejam as fotos de seus filhos.A geração que cresceu compartilhando mais informações do que deveria sobre cada jantar em restaurante e viagem agora está começando a ter filhos. Sou membro dessa geração. Apenas dois dias depois do nascimento de meu filho, fiz um post público sobre ele no Instagram – nome, foto, data de nascimento e tudo mais. Lamento tê-lo feito, agora. Parei de postar fotos de seu rosto e removi os posts antigos. Não estou dizendo que postar fotos de seus filhos seja uma coisa terrível. Mas, antes de compartilhar, é preciso fazer perguntas importantes – e tomar as precauções necessárias.Como meu filho verá o que publiquei? Há muita coisa que não sei sobre a pessoa que meu filho se tornará. Não sei se ele desejará ser um astro do You Tube, famoso no mundo inteiro e completamente sem filtros. Não sei se ele vai achar que o vídeo que fiz e em que ele parece tentar dar a descarga em seu peniquinho é engraçado ou embaraçoso."Os pais precisam estar cientes de que um dia seus filhos terão de encarar aquilo que eles escolheram revelar", disse Stacey Steinberg, professora de direito na Universidade da Flórida e especialista em leis sobre a criança. "Precisamos encontrar um ponto de equilíbrio entre a privacidade da criança e nosso direito de compartilhar." O que fazer: Considere se sua foto ou comentário invade a privacidade de seu filho ou pode causar embaraço. Alguns temas quase sempre o fazem: xixi na cama, chiliques, problemas de saúde.Steinberg sugere limitar a quantidade de coisas que você posta, ou mesmo apagar os posts depois de alguns meses. Converse com seus filhos sobre as fotos que você compartilha, mesmo que eles tenham só quatro ou cinco anos. Enfatize a ideia de que a imagem é deles e que cabe a eles decidir quem pode vê-la.A aposta mais segura? Criar uma rede social privativa, com apps de mensagens ou serviços como o Apple Photos ou o Google Photos. Você poderá convidar parentes e amigos para visitar álbuns compartilhados e atualizá-los diariamente com fotos e legendas. Se você vai compartilhar fotos de seus filhos, restrinja o acesso aos seus posts e à sua conta apenas a pessoas aprovadas. Remova da sua lista de amigos ou bloqueie quaisquer seguidores com os quais você não se sinta confortável. Lembre-se de que a foto que você usa em seu perfil no Facebook – na qual pais muitas vezes aparecem em companhia dos filhos – é sempre visível para todos.Nosso principal trabalho como pais é proteger nossos filhos. O trabalho principal das redes sociais é atrair mais cliques, mesmo que ao custo da privacidade e da proteção aos usuários. Não importa o quanto seus filhos estejam sendo engraçadinhos e fofos quando você aponta a câmera na direção deles, pense antes de postar – ou talvez simplesmente não poste.
Este é a íntegra de uma
reportagem de Joanna Stern, publicada na edição de 19 de março de 2019 do
jornal Folha de S.Paulo, com
indicação de ter sido publicada no The
Wall Street Journal, e com tradução atribuída a Paulo Migliacci.
Quatro anos depois, este blog retorna
ao tema - bebês e redes sociais. Intitulada Expostos na web desde a gravidez – Infância compartilhada à exaustão, a postagem
publicada em 11 de julho de 2015 apresenta uma reportagem homônima, publicada
na edição de 31 de maio de 2015 do jornal O Globo, assinada por Ana Clara Otoni. Uma reportagem que, no meu
entender, vale a pena ler.
"Converse com seus filhos sobre as fotos que você compartilha, mesmo que eles tenham só quatro ou cinco anos. Enfatize a ideia de que a imagem é deles e que cabe a eles decidir quem pode vê-la.", diz Joanna Stern.
"Pais
que postam demais sobre os filhos violam sua privacidade, alertam
especialistas; as próprias crianças já pedem que eles não publiquem na rede
tudo sobre seu cotidiano", eis o
subtítulo da reportagem de Ana Clara Otoni, citada no segundo parágrafo acima, da
qual extraí os dois próximos parágrafos.
"Qual é a graça de ir na casa da vovó no domingo e não ter nada novo para contar? Todo mundo já sabe que eu fui ao cinema, o que vi na mostra do CCBB e até o que fiz na escola porque você já postou tudo no Facebook, mãe!" Foi a partir desse puxão de orelha do filho Lucas, de 7 anos, que Anamaria Mendes passou a repensar o modo como compartilha informações na internet.
(...) Quando íamos tirar fotos, ele perguntava se eu ia postar, pedia para avaliar ou se esquivava. Por isso, há dois anos, Anamaria mudou de postura e tem respeitado a vontade do filho. - No mês passado, os dentinhos dele caíram e ele pediu para ninguém comentar na internet. Queria chegar na casa da avó no domingo e mostrar a novidade."
Vocês concordam
que o que é dito por Joanna Stern e por Ana Clara Otoni têm tudo a ver?
"Nosso principal trabalho como pais é proteger nossos filhos. O trabalho principal das redes sociais é atrair mais cliques, mesmo que ao custo da privacidade e da proteção aos usuários.", eis o início do parágrafo com o qual Joanna Stern encerra sua excelente reportagem.
Ou seja, considerando
tais palavras, será que o principal trabalho dos pais pode ser visto como simplesmente
oposto ao trabalho principal das redes sociais? Portanto,
que tal refletir um pouco sobre a última frase escrita por Joanna Stern.
"Não importa o quanto seus filhos estejam sendo engraçadinhos e fofos quando você aponta a câmera na direção deles, pense antes de postar – ou talvez simplesmente não poste.
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