Projeto de renovação de orla marítima teria robôs e sensores, mas captaria dados de cidadãos indiscriminadamenteToronto, uma das maiores metrópoles do Canadá, estava destinada a se tornar uma vasta "cidade inteligente". Era uma visão do futuro: sensores monitorariam a velocidade com que as pessoas atravessam as ruas e robôs trabalhariam coletando o lixo. Mas o projeto para a orla marítima da cidade, chamado de Quayside e desenvolvido por uma companhia irmã do Google, levantou inúmeros protestos sobre privacidade. A gritaria foi tanta que a proposta acabou sendo severamente reduzida: dos 760 mil metros quadrados originais, apenas 50 mil m2 serão executados pela Sidewalk Labs, que pertence à Alphabet, holding que controla o Google.O plano original previa bairros inteiramente construídos em madeira, toldos automáticos que protegeriam os pedestres da chuva e até calçadas capazes de derreter a neve. O projeto do empreendimento recebeu muitos planos pelas inovações que poderiam ajudar a expandir o perfil global da cidade. Em recente artigo no jornal Toronto Star, o professor da Universidade de Toronto Richard Florida argumentou que o desenvolvimento seria uma benção para a cidade, a qual, segundo ele, estava ficando para trás "das principais metrópoles tecnológicas, como São Francisco, Nova York, Londres e Xangai".Mas o plano para o empreendimento, também falava em sensores e câmeras para rastrear as pessoas que vivem, trabalham ou passam pela área. Os dados resultantes, segundo a empresa, seriam usados para aperfeiçoar ainda mais a nova comunidade. Isso gerou protestos de moradores e defensores da privacidade. Um grupo caracterizou o projeto como a tentativa de uma "afiliada do Google" de transformar cidades em "territórios de vigilância corporativa, inspirados em empreendimentos no estilo da Disney e áreas vendidas para serviços policiais e parceiros corporativos".A Waterfront Toronto, agência governamental que supervisiona os projetos de renovação da área, agora quer obter maior controle sobre todos os dados, exigindo que a Sidewalk Labs trate as informações coletadas no empreendimento como um bem público. O acordo alcançado com a Sidewalk Labs também determina que a empresa deve fazer parcerias com outros desenvolvedores imobiliários.Segundo uma das críticas, isso pode não ser suficiente. "A melhor maneira de acabar com essa confusão seria a Waterfront Toronto encerrar qualquer acordo com a Sidewalk o mais rápido possível", disse Julie Beddoes, moradora local e membro do grupo BlockSidewalk, em nota após a votação.O debate sobre o poder que Toronto deu à empresa de tecnologia expôs os desafios que as cidades enfrentam na tentativa de buscar inovação tecnológica com parceiros privados e, ao mesmo tempo, garantir a privacidade de seus habitantes. Porta-voz da Sidewalk Labs, Keerthana Rang disse que a empresa continua confiante de que poderá seguir suas ambições, embora em menor escala.Daniel Doctoroff, diretor da Sidewalk, havia lançado o plano original como um manifesto para a cidade do amanhã. "É o guia para uma abordagem nova do urbanismo", disse ele. A Waterfront Toronto disse que fará novas consultas públicas e uma análise formal do plano, as quais irão determinar se o projeto pode avançar.
Esta é a
íntegra de uma reportagem publicada na edição de 10 de novembro de 2019 do
jornal O Estado de S. Paulo com
a indicação de ter sido publicada no The New York Times. A autoria da
reportagem é atribuída a Dan Bilefsky, e a tradução a Renato Prelorentzou.
Aleluia!
Eis que surge uma manifestação alentadora contra a estonteante quantidade de
coisas inteligentes oferecidas a uma pretensa espécie inteligente do universo. "Toronto
reduz cidade inteligente após protestos por privacidade", diz o
título da reportagem reproduzida nesta postagem. "Toronto
reduz cidade inteligente após protestos por privacidade e evidencia aumento da
inteligência dos protestantes", eis o
título que eu daria a tal reportagem.
"Em recente artigo no jornal Toronto Star, o professor da Universidade de Toronto Richard Florida argumentou que o desenvolvimento seria uma benção para a cidade, a qual, segundo ele, estava ficando para trás 'das principais metrópoles tecnológicas, como São Francisco, Nova York, Londres e Xangai'", diz Dan Bilefskya.
"Mas o plano para o empreendimento, também falava em sensores e câmeras para rastrear as pessoas que vivem, trabalham ou passam pela área. Os dados resultantes, segundo a empresa, seriam usados para aperfeiçoar ainda mais a nova comunidade.", acrescenta Dan Bilefsky.
"O professor da
Universidade de Toronto Richard Florida argumentou que o desenvolvimento seria
uma benção para a cidade", (...) "mas o plano (...) também falava em
(...)." Eis o velho problema do "mas"! Para toda e qualquer
"benção" que nos seja oferecida por essas coisas denominadas
corporações haverá sempre um "mas" que trará uma
maldição!
"Segundo
a empresa, os dados seriam usados para aperfeiçoar ainda mais a nova
comunidade.", diz Dan Bilefsky. Comunidade, eis uma palavra chave para o entendimento
da deplorável situação em que se encontra esta civilização (sic). "Uma
das grandes solidões do mundo contemporâneo é a perda de comunidade. Perdemos
esse sentido comunitário.", diz Severino Antônio, Ph.D., educador e
escritor, em uma passagem do extraordinário documentário O Começo da Vida. Buscando em dicionários o melhor
significado para comunidade, fico com o seguinte: "Agrupamento que se caracteriza por forte coesão
baseada no consenso espontâneo dos indivíduos."
"Uma forte coesão baseada no consenso espontâneo dos
indivíduos.", eis o que propicia a construção de algo que faça jus ao termo
comunidade; não a colocação de "sensores e câmeras para
rastrear as pessoas (...) em uma tentativa de transformar cidades
em 'territórios de vigilância corporativa (...) e áreas vendidas para
serviços policiais e parceiros corporativos'". Ou
seja, o significado de comunidade apresentado na reportagem é completamente
diferente do apresentado na última frase do parágrafo anterior.
"O debate sobre o poder que Toronto deu à empresa de tecnologia expôs os desafios que as cidades enfrentam na tentativa de buscar inovação tecnológica com parceiros privados e, ao mesmo tempo, garantir a privacidade de seus habitantes.", diz Dan Bilefsky.
Não,
não é apenas no caso citado na reportagem que ocorrem os desafios citados no
parágrafo anterior. Em toda e qualquer interação com "parceiros
privados" haverá sempre perigos incalculáveis. Por quê? Porque a única
coisa que interessa a "parceiros privados" é o dinheiro.
E como diz Nuccio Ordine, professor de literatura italiana da Universidade da
Calábria, em artigo intitulado Democracia
líquida, publicado na edição de 16.02.2014 do jornal O Estado de S. Paulo, "Reduzir
o valor da vida ao dinheiro mata toda possibilidade de idealizar um mundo
melhor.".
Parafraseando
Nuccio Ordine, "Reduzir o valor da vida à busca de coisas inteligentes mata
toda possibilidade de idealizar um mundo melhor." Afinal, como disse Alexis
Carrel (1873 – 1944), cirurgião, fisiologista, biólogo e sociólogo francês que,
em 1912, recebeu o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, "A civilização
não tem como finalidade o progresso das máquinas; mas, sim o do homem".
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