Paulista, descendente de japoneses, ele vive nas ruas do Rio há 9 anos: 'quero ajudar'
Ajudar as pessoas. Esse é o mantra de Mário Nishimura, de 44 anos, que está em situação de rua há nove anos. Descendente de japoneses, ele chama a atenção de quem passa em frente ao prédio do Ministério Público (MPRJ), no centro do Rio.Ali, em meio a um carrinho com objetos pessoais, ele carrega três placas para captação de energia solar que ficam sobre uma estrutura improvisada de isopor, apontadas para o céu. Mário usa a energia gerada por elas para consertar, gratuitamente, celulares: - Consegui montar essa estrutura com a ajuda de um conhecido. Comprei essas placas de energia solar pela internet, a 33 dólares cada. Paguei com o meu dinheiro, mas pedi para que fosse entregue na casa dele. Só assim para conseguir fazer esses consertos, porque não tenho acesso a energia elétrica.Natural de Santo André, Região Metropolitana de São Paulo, Mário sobrevive com benefício do governo federal. – Não é porque eu estou nessa situação que não goste ou não possa auxiliar. Consertar o celular pode custar muito caro, então, eu ajudo as pessoas. Fora isso, gosto de mexer com os aparelhos, me faz bem. Moro nas ruas desde que vim para o Rio, não consegui arranjar um emprego aqui – conta.Ele aprendeu a mexer em celular através de tutoriais no You Tube, no próprio aparelho, que mantém conectado a uma das placas de energia solar. O acesso à internet é garantido por redes de wi-fi disponíveis na região.Inspiração na luz de LEDMário viveu no Japão, entre idas e vindas, de 1997 a 2008. Lá, trabalhou em uma fábrica desmontando portas, portões e janelas de alumínio. O fascínio pelos equipamentos elétricos e eletrônicos surgiu na primeira visita ao país, aos 18 anos, quando conheceu os painéis de luz de LED branca: - Essa tecnologia ainda não tinha chegado aqui no Brasil, fiquei impressionado.De volta ao presente, ele conta que sonha com uma casa e um mundo melhor: - Espero sair das ruas, mas tudo será no tempo de Deus. É difícil arranjar trabalho, e não quero que me tratem mal. Às vezes recebo ofensas racistas, pessoas zombando da minha aparência. Desejo que esse país melhore e as pessoas também.
Esta é a
íntegra de uma reportagem de Vittoria Alves publicada na edição de 05 de maio de
2023 do jornal Valor."
"Estimular
as pessoas a opinarem sobre notícias que deveriam mexer conosco: as que podem
contribuir para a melhoria da sociedade e as que podem contribuir para a 'pioria'",
eis a intenção deste blog, pois "É preciso propagar as do primeiro tipo e
desmascarar as do segundo". A publicação desta postagem está em
conformidade com a intenção deste blog no que tange ao primeiro tipo de
notícias: "as que podem contribuir para a melhoria da sociedade." Feito
este preâmbulo vamos a algumas reflexões provocadas pela inspiradora reportagem
de Vittoria Alves.
"Ajudar as pessoas. Esse é o mantra de Mário Nishimura, de 44 anos, que está em situação de rua há nove anos.", diz Vittoria Alves.
Mantra que uso para compará-lo com o de uma parcela
considerável de indivíduos em situação não de rua, mas de prédios onde reúnem-se
há sei lá quantos anos de mandatos como deputados, senadores ou vereadores.
Mandatos usados para tramarem o melhor modo de praticarem o seu mantra: "Ferrar
(para não usar um verbo mais contundente) as pessoas."
Mantra que considero representado em um sarcástico jargão
usado por um personagem criado pelo genial Chico Anísio para representar, em um
programa exibido entre janeiro de 1973 e abril de 1980, uma parcela
considerável dos políticos brasileiros. Qual é o jargão? "Eu quero que
pobre se exploda!". Sim, naquela época era proibido o uso de palavras mais
contundentes em programas televisivos. Época em que, mesmo antes da fundação do
Partido dos Trabalhadores (em 1980), os políticos já eram como são hoje.
Ou seja, diferentemente do que a grande mídia propaga, a existência
de políticos dotados de falta de escrúpulos, de ausência de princípios morais e
de sedução pela corrupção não é algo que, neste país, tenha surgido após a
criação do PT, embora possa haver também nesse partido indivíduos dotados de tais
qualidades. Não, qualidade não é algo apenas positivo. Existem também qualidades
negativas, talvez até em quantidade maior do que as positivas, conforme sugere
a qualidade da sociedade em que vivemos, considerando "que a qualidade de uma sociedade é resultado das ações de
todos os seus componentes".
No meu entender, nenhum grupo
constituído de seres humanos é integralmente bom nem integralmente mau. Até
porque, individualmente, nenhum ser humano é integralmente bom nem
integralmente mau. Sendo assim, creio que o que nos cabe é procurar fazer a
devida distinção entre o que seja bom e o que seja mau, e feito isso, buscar
colocar em prática aquilo que prestar. Como diz aquela recomendação atribuída a
Paulo de Tarso: "Examinai tudo. Retende o que for bom." Recomendação que considero válida para toda e
qualquer coisa que venhamos a fazer, inclusive a escolha dos políticos que nos
representarão em termos de decidir o que seja melhor para a coletividade.
Afinal, por mais incrível que possa parecer, é sobre isso que versa a tão
alardeada democracia: governar em prol do interesse de todos, e não como se vê
neste país em que o congresso é composto de bancadas encarregadas de defender interesses
particulares em detrimento do bem comum.
"Mário sobrevive com benefício do governo federal.", diz Vittoria Alves.
Sobreviver, eis a palavra que descreve perfeitamente o
que é possível fazer com o benefício
do governo federal que Mário recebe. E ao usar o verbo
sobreviver, Vittoria leva-me a fazer mais uma comparação. "Pralamentares,
digo, parlamentares, vivem nababescamente com altas remunerações recebidas do governo
federal acrescidas de uma infinidade de auxílios que deveriam ser vistos como autênticos
deboches."
"– Não é porque eu estou nessa situação que não goste ou não possa auxiliar.", diz o próprio Mário Nishimura.
E tome comparações! "–
Não é porque eu estou nessa situação que goste ou deva auxiliar.", eis o que imagino que diz uma parcela
considerável dos políticos brasileiros.
"Às vezes recebo ofensas racistas, pessoas zombando da minha aparência.", diz Mário Nishimura."
"Nas vezes em que estou reunido com colegas de
trabalho (sic) recebo o cerimonioso tratamento "Vossa Excelência",
que, à luz da minha atuação como parlamentar, deveria soar como uma autêntica
zombaria", eis o que deveria dizer uma parcela considerável dos políticos
brasileiros.
"Desejo que esse país melhore e as pessoas também.", diz Mário Nishimura na última frase da instigante reportagem de Vittoria Alves.
Que o país em que vive
melhore, eis um desejo que imagino ser da maioria das pessoas que nele vivem ou
sobrevivem, e que dele não podem sair. O problema? Melhorar um país é algo para
o qual só há um caminho: a melhora das pessoas que o integram. O problema? A melhora
das pessoas é algo para o qual também só há um caminho: cada pessoa melhorar a
si própria, pois a única maneira de conseguir mudar outra pessoa é por meio do nosso
exemplo.
Exemplificar como agir de
forma a tornar-se uma pessoa melhor, eis o que faz Mário Nishimura.
Em um país em que a imensa maioria vive em conformidade com a indagação "O que é que eu ganho com isso?", o que faz Nishimura? Tendo "Ajudar as pessoas" como mantra, embora sobreviva com benefício do governo federal, ele sobrevive
em conformidade com uma indagação
diametralmente oposta: "O que é que as pessoas podem ganhar com o que eu faço?".
Em tempo: a postagem publicada em 08 de abril de 2023 no
blog Espalhando ideias é intitulada "O que é que eu ganho com isso?".
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